domingo, 17 de janeiro de 2021

 

ARROGÂNCIA RUINOSA 

BY JAMIL CHADE, EL PAÍS, 17/01/2021

Vacina chega após arrogância e erros homéricos de uma diplomacia brasileira limitada


Brasil deixou de aderir a uma coalizão global pelas vacinas em abril, que daria prioridade aos brasileiros com vacinas. Em vez disso, optou por uma política que minava a confiança na Coronavac e investiu num pacote negacionista que explica o colapso de Manaus e a dor de milhares de famílias


JAMIL CHADE, 17/01/ 2021 - 18:39, EL PAÍS


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Diretoria da Anvisa aprovou uso emergencial das vacinas de Oxford e Coronavac.

Anvisa autoriza o uso emergencial das vacinas Coronavac e da AstraZeneca/Oxford contra a covid-19



Aqui jaz os restos conceituais da política externa do governo de Jair Bolsonaro, responsável por isolar o país do grupo das grandes democracias do mundo e destruir a reputação de uma nação. Na lápide da diplomacia do Brasil, essa bem poderia ser a descrição para quem um dia for visitar o memorial dedicado às ideias, projetos e políticas que não sobreviveram à pandemia.



Entre 2020 e 2021, o Brasil foi vítima de um vírus que desconhecia ideologia, a noção de soberania e zombava de fronteiras. Mas só nas últimas semanas, o Governo descobriu que o país está de joelhos diante de uma pandemia que ganha força. Descobriu que está sem imunizante, sem oxigênio, sem plano e sem alternativas. Nada disso, porém, é culpa exclusiva do Sars-Cov-2. Depois de ter politizado a origem do vírus, a máscara e tratamentos, o governo tomou a decisão deliberada de repetir esse roteiro com o imunizante.


A demora e indefinição para começar a vacinação não foram acidentes de última hora. Trata-se de o resultado dramático de decisões políticas adotadas ao longo de meses. O primeiro passo nesse longo processo foi o de não aderir inicialmente ao projeto de uma coordenação global. Em abril de 2020, a OMS iniciou a construção de um sistema que permitiria uma distribuição equitativa da vacina pelo mundo. Uma espécie de fundo de vacinas que permitiria que, uma vez autorizados os produtos, a coalizão garantiria a distribuição do imunizante para todos os países, atendendo inicialmente a 20% das populações de cada nação.


A ideia era simples: se for deixado às forças do mercado ou ao sistema internacional, os países emergentes e pobres poderiam ficar para o fim da fila na vacinação. Exemplos já existiam disso. Quando o H1N1 se abateu sobre o mundo, países ricos foram os primeiros a imunizar suas populações. Quando a vacina chegou aos países pobres, o surto já tinha terminado.


A Aids também trouxe uma história similar. Por anos, as economias mais pobres ficaram sem acesso aos tratamentos, enquanto o coquetel já era uma realidade nos EUA e Europa. Quando os remédios finalmente desembarcaram na África, os países mais pobres já somavam 9 milhões de mortes.



Na OMS, técnicos e diretores estavam convencidos de que, na atual pandemia, esses erros não poderiam se repetir. Mas a ordem no Itamaraty era a de não permitir que, durante a pandemia, os organismos internacionais ganhassem força ou fossem os locais de coordenação de uma resposta global. Mergulhado em seu combate contra o “globalismo” que destruiria as identidades nacionais, o Itamaraty ficou de fora de reuniões internacionais e, quando participou, fez questão de usar o palanque para rejeitar qualquer ideia que significasse um reconhecimento da necessidade de um plano global contra o vírus.


Naquele mês de abril de 2020, o Ministério da Saúde informaria que não faria parte da aliança, batizada de Covax. Sua explicação: temos outros acordos bilaterais sendo costurados. Nunca explicaram quais eram esses planos. Pressionado, porém, o Brasil acabou cedendo alguns meses depois e aderiu ao projeto, mas sem grande entusiasmo. Ao fazer seu pedido por vacinas no fundo global, solicitou o mínimo que poderia ser comprado: o equivalente a 10% de sua população. Pelas regras, países poderiam ter solicitado até 50% de sua população.


Hoje, sem apoio internacional suficiente, sem recursos e diante de governos pseudo-nacionalistas como o do Brasil, a aliança sofre para começar a distribuir vacinas. Em Genebra, não são poucos os negociadores que acreditam que um envolvimento mais direto do Brasil no projeto poderia ter convencido outros a aderir e teria transformado a aliança numa realidade imediata.


Se a via multilateral não interessava, a escolha por acordos bilaterais também se mostrou inapta e permeada por considerações ideológicas. Tentando frear a expansão da influência da China no mundo e mais preocupado em atacar o “comunavírus”, o Governo optou por promover uma campanha contra as vacinas chinesas. Diversas empresas, nos últimos meses, relataram como entregaram propostas ao Governo e se surpreenderam com respostas frias por parte do Planalto. No governo federal, a ideia era de apenas a vacina da AstraZeneca seria suficiente.


Enquanto isso, pelo mundo, países tomaram a decisão de evitar a todo custo colocar todas suas apostas em apenas uma ou dois fornecedores de vacinas. Em Bruxelas, por exemplo, a União Europeia fechou acordos com seis empresas diferentes. Nos EUA, mesmo o governo de Donald Trump decidiu estabelecer acordos com seis fornecedores.


Na Coreia do Sul, o país garantirá seu abastecimento com três empresas, além de desenvolver projetos de uma vacina nacional com outros 15 laboratórios nacionais. Na China, além de ter quatro vacinas já em negociações com a OMS para conseguir uma aprovação global, o governo fez questão de fechar um acordo com os alemães da BioNTech para um abastecimento extra de 100 milhões de doses. Outros também estão sendo negociados com empresas ocidentais.


Sim, existe uma profunda escassez de vacinas no mundo. Mas é justamente num momento de crise que a capacidade de um país navegar e recorrer a aliados se mostra vital. No caso do Brasil, a aposta se mostrou desastrosa. Quando precisou de ajuda, descobriu que seus parceiros nacionalistas eram, de fato, nacionalistas.


Num dos episódios mais reveladores do amadorismo do Itamaraty, o governo preparou um avião para ir buscar os insumos da Índia, necessários para a vacina da AstraZeneca. Com pires na mão, Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Mas, por enquanto, Nova Delhi rejeitou fazer a entrega ao Brasil, dando (obviamente) prioridade para o início de sua campanha nacional de vacinação.


Opções começam a ser buscadas em Israel e mesmo nos EUA. Mas, ao apagar das luzes do Governo Trump e o desembarque de Joe Biden, o Governo já começa a descobrir a tradução da palavra pária. As opções para pedir ajuda ainda são limitadas. Afinal, a chancelaria fez questão de dedicar parte de seu tempo, esforço e dinheiro dos contribuintes brasileiros nos últimos anos para ofender líderes estrangeiros e queimar pontes que tinham sido construídas por décadas com parceiros internacionais.


O mais irônico e trágico disso tudo é que a história poderia ter sido radicalmente diferente. O Brasil é um dos únicos países do mundo com uma capilaridade no sistema de saúde, experiência, conhecimento científico e capacidade de mobilização para vacinar milhões de pessoas por dia. A crise brasileira, não por acaso, chama a atenção internacional. Nos bastidores da OMS, diretores não escondem o espanto sobre a situação do Brasil. “Vocês são um país com ótimos cientistas, orgulhosos de seu passado de saúde pública. O que ocorreu?”, perguntou um dos líderes da agência no esforço contra a pandemia.


A resposta não se limita à dimensão da incompetência daqueles no poder. O fracasso é um resultado direto de uma política externa que tem como pilar a ideologia, e não os interesses dos cidadãos.


Quando for iniciada, nesta quarta-feira, a maior campanha de vacinação da história do país dependerá num primeiro momento de uma vacina chinesa, justamente aquele que havia sido desprezada, ironizada e evitada pelo governo federal. Independente da ironia de uma cena digna do realismo mágico, a demora do país em começar a vacinação e a falta de imunizantes suficientes não são acidentes. Mas consequência de uma diplomacia que mostrou todos os seus limites e fracassou ao ser confrontado por seu maior teste. Gestos como o de minar a confiança em uma vacina apenas por sua origem ou se negar a promover uma resposta global fazem parte de um pacote negacionista que explica o colapso de Manaus e a dor de milhares de famílias brasileiras. Nesse caso, o impeachment seria insuficiente.

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Jamil Chade é correspondente na Europa desde 2000, mestre em relações internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra e autor do romance O Caminho de Abraão (Planeta) e outros cinco livros.

 

EDITORIAL do COMENDADOR.


(O texto foi publicado orignalmente no FACEBOOK, de madrugada, horas antes de a ANVISA dar autorização para o uso da vacina e início da vacinação

O título, talvez estranho, é porque também sou conhecido no Face como "Comendador")

EDITORIAL do COMENDADOR.

É inacreditável a cegueira política de Jair Messias Bolsonaro. A gravidade da pandemia deu-lhe uma oportunidade de ouro de liderar a salvação da pátria, sem contar a consolidação de um nome forte em 2022. 

Mas Jair Messias Bolsonaro é cego porque não soube ou quis ver. Não quis ver as evidências científicas mais que propaladas de que a doença, pra começar, era pandêmica, mundial. Não quis ver que a pandemia trazia, no curto prazo, uma tragédia social e econômica. Os principais lideranças mundiais o perceberam, algumas de imediato, outras cairam em si ao vislumbrarem o desastre à sua porta, e deram meia volta.

Não Jair Messias Bolsonaro. Desde o início respondeu com desprezo. Desde o início a doença - grave - era uma "gripezinha", uma bobagem. Fez questão de dizer que lamentava, mas não se sentia culpado pelas mortes. Fez questão de dizer que a pandemia era tão-somente um "vírus chinês", uma conspiração mundial dirigida pela China. Ao invés de se mirar num Macron ou Angela Merkel, espelhou-se em Donald Trump, o pior de todos os presidentes dos Estados Unidos. 

Mas Jair Messias Bolsonaro foi além. Demitiu o ministro Mandetta que procurava fazer um bom trabalho esgrimindo contra as fantasias da Cloroquina. Outro ministro, Teich, não aguentou e largou o jaleco, ao perceber que teria que ser um fantoche da estupidez científica e política do chefe. Finalmente confirmou Pazuello, este sim, o ministro perfeito: apesar do generalato, comporta-se como um cabo que não questiona ordens superiores. 

A cegueira de Bolsonaro não fica só nisso. Fez de tudo para atrapalhar as iniciativas de governadores, notadamente o de São Paulo. Bolsonaro queria ter o controle de tudo, mas não queria fazer nada. O STF teve que intervir e dizer que, sim, os governadores poderiam tomar iniciativas em prol da saúde da população. O presidente viu nisso um insulto a sua autoridade. 

A ANVISA também sucumbiu à cegueira do presidente. Aparelhada por militares, fez a sua parte, obstruindo ou retardando, o que é público e notório.

Pessoalmente, Bolsonaro demonstrou total desprezo pelo bom senso. Pra que andar de máscaras? Pra que evitar aglomerações? As mais comezinhas medidas de proteção antes da vacina foram solenemente ignoradas __ e todas elas com o aplauso ignorante de seus seguidores. Aliás, neste tocante, frise-se: Bolsonaro sempre foi fiel a seus seguidores, os ignorantes, e estultos negacionistas.

Em dezembro, Europa e Estados Unidos começaram a vacinação. O que fez Bolsonaro? Ficou inerte, nessa altura uma inércia criminosa. Quando viria a vacina? Não sabia, talvez lá pra fevereiro, março, sabe-se lá..., as pessoas poderiam virar jacaré e ele não queria se responsabilizar por isso. Muito amor envolvido...

Mas a realidade foi cruel e não esperou a indecisão presidencial. As mortes continuaram ocorrendo. O presidente arranjou um tempinho para nadar com seus fãs, mas a morte continuou atenta... Os cadáveres se amontoam nos hospitais; mais covas são abertas; faltam até caixões...

Tendo que se render à realidade (ufa! finalmente!) ficou com pressa. Mandou um avião à Índia: levou uma trombada de Ganesha. E agora? Agora, não tinha mais jeito: requisitou milhões de doses da vacina de São Paulo, aquela pela qual lutou o "calça apertada", porque, AGORA, quer ser o primeiro a iniciar a vacinação. Mas..., tem plano de vacinação? Mais ou menos, ou seja, tudo aquilo que a cegueira política engendra: com falta de agulhas e seringas, com falta de vacinas para todos, enfim, todo um conjunto de incompetência criminosa. Mas, o ministro-general não é expert em logística? Coloco em dúvida a expertise...

Estamos furiosos e apreensivos __ pelo menos nós que não acreditamos em fantasias.

 Jair Messias Bolsonaro poderia se qualificar como um "mito", mas dolorosamente percebemos que se trata de uma estulta farsa.

Jorge Santos da Viriato

17/01/2021.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 

UMA MENTALIDADE DESTRUTIVA da DEMOCRACIA...





A caveira é a imagem padrão de qualquer tipo de desgraça.
Com ela em vista, mostro como pensa um caveira da democracia.

O autor da postagem é OLAVO DE CARVALHO, que apoiou a baderna antidemocrática e insurreicional de ontem, 6 de janeiro 2020, no Congresso dos Estados Unidos.
O que os motivava? A contrariedade a ideias torpes que defendem. Para eles, tudo que significa civilização, democracia, direitos humanos é motivo de desprezo e chacota. A ascensão de Trump soltou os bichos! Se um governante deve conter ou, pelo menos, não incentivar os piores sentimentos de um povo, foi exatamente o que DONALD TRUMP não fez, muito pelo contrário.

A pessoas que prezam a democracia (mesmo reconhecendo seus defeitos...) ficaram estarrecidas __ e ficarão no futuro, quando, adultos, vierem a saber pelos livros de História.
Mas o pior para nós brasileiros é saber que AQUI existe um admirador-mór, nosso próprio presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro já demonstrou de maneira inequívoca sua devoção e alinhamento de ideias. Nem se fale de figuras como Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, ou de Ernesto Araújo, nosso chanceler, que, já disse abertamente, que o Brasil deveria ser até um “pária” internacional, em defesa dos princípios defendidos pelo Deus (ou deus, com minúscula?) de Trump.

Observou-se desde 2019 que Bolsonaro e seguidores não mediram esforços para estarem perfeitamente alinhados com Trump. Olavo de Carvalho é tido como “guru” dos Bolsonaros __ embora ele o negue. E Olavo, a propósito, também achou que Trump foi roubado pelo Biden, a quem chama de Bidê. O mundo reconheceu antecipadamente a vitória de Biden antes da votação do Colégio Eleitoral. Bolsonaro se negou a fazê-lo, num assombroso silêncio constrangedor.

Mas, como pensam os apoiadores de Trump? O que lerão é uma síntese daquele pensamento (se é que pode ser chamado assim). Sim, não foi Trump que escreveu, mas reflete o reacionarismo daquela gente. Se você compulsar a internet ao longo dos governos Trump e Bolsonaro, você encontrará o que vai sintetizado abaixo.



sábado, 18 de julho de 2020

OS RISCOS DE MANTER AS ESCOLAS FECHADAS SUPERAM EM MUITO OS BENEFÍCIOS



OS RISCOS DE MANTER AS ESCOLAS FECHADAS SUPERAM EM MUITO OS BENEFÍCIOS
Milhões de mentes jovens vão perder
18/07/2020, THE ECONOMIST


Em todo o mundo, as mentes das crianças vão perder. Como a covid-19 surgiu no início de abril, mais de 90% dos alunos foram excluídos da escola. Desde então, o número caiu em um terço, pois muitas salas de aula na Europa e no Leste da Ásia foram reabertas. Mas em outros lugares o progresso é lento. Alguns distritos escolares americanos, incluindo Los Angeles e San Diego, planejam oferecer apenas aprendizado remoto quando o novo ano escolar começar. O governo do Quênia descartou o ano inteiro, deixando seus filhos ociosos até janeiro. Nas Filipinas, o presidente Rodrigo Duterte diz que não deve deixar nenhuma criança voltar à sala de aula até que uma vacina seja encontrada. A África do Sul reabriu os cassinos, mas apenas uma fração das salas de aula.

Muitos pais estão compreensivelmente assustados. Covid-19 é novo e pouco conhecido. As escolas são grandes e lotadas. Crianças pequenas não observam distanciamento social. Cuidado é apropriado, especialmente quando os casos estão aumentando. Mas, como discutimos antes, os benefícios da reabertura de escolas geralmente superam os custos.

O novo coronavírus apresenta baixo risco para as crianças. Estudos sugerem que menores de 18 anos têm um terço a metade menos de chance de contrair a doença. Pessoas com menos de dez anos, de acordo com números britânicos, têm uma probabilidade mil vezes menor de morrer do que alguém com idades entre 70 e 79 anos. Na Suécia, funcionários de creches e escolas primárias, que nunca fecharam, não eram mais propensos a pegar o vírus do que aqueles em outros empregos. Um novo estudo com 1.500 alunos adolescentes e 500 professores que haviam voltado para a escola na Alemanha em maio descobriu que apenas 0,6% tinham anticorpos para o vírus, menos da metade da taxa nacional encontrada em outros estudos. É verdade que um surto em uma escola secundária em Israel infectou mais de 150 alunos e funcionários. Mas com precauções, o risco pode ser minimizado.

No entanto, os custos da falta de escola são enormes. As crianças aprendem menos e perdem o hábito de aprender. O aplicativo ZOOM é um péssimo substituto para as salas de aula. As crianças pobres, com menor probabilidade de ter bons pais com acesso à rede Wi-Fi e com educação, ficam mais para trás do que seus pares em melhor situação. Os pais que não têm onde deixar os filhos lutam para voltar ao trabalho. As mães carregam o fardo mais pesado e, portanto, sofrem um revés maior na carreira. As crianças fora da escola são mais propensas a sofrer abuso, desnutrição e problemas de saúde mental.

O fechamento das escolas já é ruim o suficiente nos países ricos. O dano que eles causam aos pobres é muito pior. Talvez 465 milhões de crianças que recebem aulas on-line não possam usá-las facilmente porque não possuem conexão à Internet. Em partes da África e do sul da Ásia, as famílias estão tão apavoradas que muitos pais estão incentivando os filhos a abandonar os estudos e começar a trabalhar ou se casar. Quanto mais a escola estiver fechada, mais essa escolha será lamentável. A organização Save the Children, uma instituição de caridade, acredita que quase 10 milhões de alunos podem desistir. A maioria será meninas.

A educação é o caminho mais seguro para sair da pobreza. Privar seus filhos os condenará a vidas mais pobres, mais curtas e menos gratificantes. O Banco Mundial estima que cinco meses de fechamento de escolas reduziriam os ganhos da vida das crianças afetadas por US $ 10 bilhões em dinheiro de hoje, o equivalente a 7% do atual PIB anual.

Com tais perdas potenciais catastróficas, os governos devem estar pensando em como reabrir as escolas assim que possível. Esta não deve ser uma questão partidária, como infelizmente se tornou nos Estados Unidos, onde algumas pessoas assumem que é uma má idéia simplesmente porque o presidente Donald Trump propõe. Em alguns países, os sindicatos de professores têm sido obstrutivos, em parte devido à preocupação justificada com a saúde pública à medida que os casos aumentam, mas também porque os interesses dos professores não são os mesmos que os das crianças - especialmente se eles estão sendo pagos, trabalhando ou não. O principal sindicato de Los Angeles pede que as escolas permaneçam fechadas até que uma longa lista de desejos seja atendida, incluindo o sonho ilusório do atendimento universal à saúde na América. As crianças não podem esperar tanto tempo.

Locais que retomaram os estudos, como França, Dinamarca, China e Nova Zelândia, oferecem dicas para minimizar os riscos. Eles deixam os professores mais vulneráveis ​​ficarem em casa. Eles geralmente reduziam o tamanho das turmas, mesmo que isso significasse que muitas crianças poderiam passar apenas parte da semana com seus professores. Eles escalonaram horários para evitar aglomerações nos corredores, nos portões da escola e nos refeitórios. Eles exigiram ou encorajaram máscaras. Eles aprimoraram os testes e rastreamentos nas escolas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças os usaram para elaborar diretrizes sóbrias, que incluem medidas como separar as mesas por um metro e oitenta (embora o vice-presidente desta semana tenha dito que as escolas deveriam se sentir à vontade para ignorá-las).

Os países europeus esperaram em média cerca de 30 dias após o pico das infecções antes de retomarem a presença na escola. Tendo começado dessa maneira, muitos têm relaxado as regras para permitir que a maioria dos alunos retorne à escola ao mesmo tempo. Não há experiência conhecida de reabertura de escolas em locais onde o vírus era tão prevalecente quanto no Arizona, Flórida ou Texas. Esses locais terão que controlar o vírus antes que o novo termo comece. Provavelmente, isso significa que nem todas as crianças poderão voltar em período integral ainda. Mas alguns dias por semana com um professor são melhores que nenhum. E, como na Europa, as escolas podem abrir mais à medida que a covid-19 recua.

As opções no Sul subdesenvolvido  são ainda mais difíceis. Apenas um quarto das escolas dos países mais pobres tem sabão e água corrente para lavar as mãos. No entanto, as escolas nesses locais também são onde os alunos são frequentemente alimentados e vacinados. Fechá-los torna as crianças mais vulneráveis ​​à fome e ao sarampo, e esse risco quase certamente supera o da covid-19. O caminho prudente para os governos dos países pobres é, portanto, agir com ousadia. Enfrente sindicatos e reabra escolas. Realize campanhas de reinscrição altas, especialmente para meninas. Ofereça pequenas transferências ou presentes em dinheiro (como máscaras ou canetas) para aliviar as preocupações dos pais com os custos de levar seus filhos de volta às aulas.

Reabrir as escolas do mundo com segurança não será barato. Além de bilhões de garrafas de desinfetante para as mãos, será necessária uma organização cuidadosa, horários flexíveis e assistência para quem ficou para trás para recuperar o atraso. Custará dinheiro dos contribuintes, mas os contribuintes também costumam ser pais. Os países ricos devem ajudar os pobres com alguns dos custos. Por mais elevados que sejam, não são nada como os custos de deixar a maior geração da história humana crescer em ignorância. ■
(Tradução do Google)
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(Texto original em inglês)

The risks of keeping schools closed far outweigh the benefits
Millions of young minds are going to waste
18/07/2020

All around the world, children’s minds are going to waste. As covid-19 surged in early April, more than 90% of pupils were shut out of school. Since then the number has fallen by one-third, as many classrooms in Europe and East Asia have reopened. But elsewhere progress is slow. Some American school districts, including Los Angeles and San Diego, plan to offer only remote learning when their new school year begins. Kenya’s government has scrapped the whole year, leaving its children idle until January. In the Philippines President Rodrigo Duterte says he may not let any children return to the classroom until a vaccine is found. South Africa has reopened casinos, but only a fraction of classrooms.

Many parents are understandably scared. Covid-19 is new, and poorly understood. Schools are big and crowded. Small children will not observe social distancing. Caution is appropriate, especially when cases are rising. But as we have argued before, the benefits of reopening schools usually outweigh the costs.

The new coronavirus poses a low risk to children. Studies suggest that under-18s are a third to a half less likely to catch the disease. Those under ten, according to British figures, are a thousand times less likely to die than someone aged between 70 and 79. The evidence suggests they are not especially likely to infect others. In Sweden staff at nurseries and primary schools, which never closed, were no more likely to catch the virus than those in other jobs. A new study of 1,500 teenage pupils and 500 teachers who had gone back to school in Germany in May found that only 0.6% had antibodies to the virus, less than half the national rate found in other studies. Granted, an outbreak at a secondary school in Israel infected over 150 pupils and staff. But with precautions, the risk can be minimised.

However, the costs of missing school are huge. Children learn less, and lose the habit of learning. Zoom is a lousy substitute for classrooms. Poor children, who are less likely to have good Wi-Fi and educated parents, fall further behind their better-off peers. Parents who have nowhere to drop their children struggle to return to work. Mothers bear the heavier burden, and so suffer a bigger career setback. Children out of school are more likely to suffer abuse, malnutrition and poor mental health.

School closures are bad enough in rich countries. The harm they do in poor ones is much worse (see article). Perhaps 465m children being offered online classes cannot easily make use of them because they lack an internet connection. In parts of Africa and South Asia, families are in such dire straits that many parents are urging their children to give up their studies and start work or get married. The longer school is shut, the more will make this woeful choice. Save the Children, a charity, guesses that nearly 10m could drop out. Most will be girls.

Education is the surest path out of poverty. Depriving children of it will doom them to poorer, shorter, less fulfilling lives. The World Bank estimates that five months of school closures would cut lifetime earnings for the children who are affected by $10trn in today’s money, equivalent to 7% of current annual gdp.

With such catastrophic potential losses, governments should be working out how to reopen schools as soon as it is safe. This should not be a partisan issue, as it has sadly become in America, where some people assume it is a bad idea simply because President Donald Trump proposes it. In some countries teachers’ unions have been obstructive, partly out of justified concern for public health as cases climb, but also because teachers’ interests are not the same as children’s—especially if they are being paid whether they work or not. The main union in Los Angeles urges that schools remain closed until a long wishlist of demands has been met, including the elusive dream of universal health care in America. Children cannot wait that long.

Places that have restarted schooling, such as France, Denmark, China and New Zealand, offer tips for minimising the risks. They let the most vulnerable teachers stay at home. They commonly reduced class sizes, even though that meant many children could spend only part of the week with their teachers. They staggered timetables to prevent crowding in corridors, at school gates and in dinner halls. They required or encouraged masks. They boosted school-based testing and tracing. The Centres for Disease Control and Prevention has used these to draw up sober guidelines, which include measures such as separating desks by six feet (though the vice-president this week said that schools should feel free to ignore them).

European countries waited on average about 30 days after infections had peaked before they resumed some presence at school. Having started this way, many have since relaxed the rules to let most pupils return to school at the same time. There is no known experience of schools reopening in places where the virus was as prevalent as it is now in Arizona, Florida or Texas. Such places will have to bring the virus under control before the new term begins. This probably means that not all children will be able to go back full-time even then. But a few days a week with a teacher are better than none. And, as in Europe, schools can open up more as covid-19 recedes.

The trade-offs in the global South are even harder. Only a quarter of schools in the poorest countries have soap and running water for handwashing. However, schools in such places are also where pupils are often fed and vaccinated. Closing them makes children more vulnerable to hunger and measles, and this risk almost certainly outweighs that of covid-19. The prudent course for poor-country governments is therefore to act boldly. Face down unions and reopen schools. Conduct loud re-enrolment campaigns, aimed especially at girls. Offer small cash transfers or gifts (such as masks or pens) to ease parents’ worries about the costs of getting their offspring back to class.

Reopening the world’s schools safely will not be cheap. Besides billions of bottles of hand sanitiser, it will require careful organisation, flexible schedules and assistance for those who have fallen behind to catch up. It will cost taxpayers money, but taxpayers are often parents, too. Rich countries should help poor ones with some of the costs. Steep as these will be, they are nothing like the costs of letting the largest generation in human history grow up in ignorance. ■


quinta-feira, 11 de junho de 2020

A cruzada hipócrita de Sérgio Moro contra Jair Bolsonaro



A cruzada hipócrita de Sérgio Moro contra Jair Bolsonaro
Agora que deixou o governo brasileiro, o ex-juiz e ex-ministro redescobriu os benefícios do estado de direito que ele contribuiu para colocar em risco. Não devemos esquecer isso.
Por Gaspard Estrada, The New York Times
9 de junho de 2020


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O Brasil está passando por muitas crises ao mesmo tempo. Ele está prestes a se tornar um dos epicentros globais da pandemia e uma crise política está se aprofundando a cada dia também.

Nas últimas semanas, pelo menos quatro ministros do governo Jair Bolsonaro renunciaram ou foram forçados a renunciar. Talvez a demissão mais desafiadora para o presidente seja a de seu ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. Quando se demitiu, acusou Bolsonaro de querer interferir politicamente na polícia federal. Dessa forma, o ex-juiz, que liderou a operação anticorrupção Lava Jato, deixou clara sua intenção de recuperar o papel de "justiça" do Brasil que o levou à fama.

Mas, ao fazer isso, Moro se aventura em terrenos pantanosos.

No fundo dessa mudança repentina do ministro estelar de Bolsonaro para seu perseguidor, há um paradoxo de que os brasileiros não devem perder de vista: em 2017, como autoridade do judiciário, Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua frase se tornou popular : "A lei é para todos." Mas quando as informações foram divulgadas mais tarde sobre como o ex-juiz manipulou os mecanismos de delação premiada  e que ocultou evidências do processo no Supremo Tribunal Federal - ele sentenciou Lula da Silva por "atos indeterminados ex officio" com a aprovação do tribunal. do recurso de Porto Alegre, que considerou que a operação Lava Jato “não precisa seguir regras processuais comuns” -, ficou evidente que para ele a lei não é a mesma para todos.

Então, quando Moro acusou Bolsonaro de querer politizar a justiça, tentando interferir com a polícia federal para obter informações de investigações em andamento, faríamos bem em ver a ironia.

Embora seja essencial investigar a alegada tentativa de Bolsonaro de interferir em órgãos judiciais autônomos, a justiça e os cidadãos não devem parar de questionar (e investigar) os métodos de Moro em sua cruzada anticorrupção quando ele era juiz e seu silêncio e cumplicidade quando ele era um membro do governo Bolsonaro.

A revelação dos laços entre a família do presidente e as milícias que controlam grande parte do Rio de Janeiro e as tentativas do presidente, divulgadas ao público nos últimos meses, de impedir investigações judiciais dão credibilidade às alegações de Moro. No entanto, o que o ex-juiz não disse à opinião pública - ou aos policiais que o questionaram recentemente - é que, segundo algumas investigações jornalísticas, ele também usou sua influência política como ministro: segundo o próprio Bolsonaro, Moro deu a ele informações privilegiadas sobre as operações policiais federais em andamento que poderiam afetar membros de seu governo.

Mesmo antes de sua chegada ao gabinete de Bolsonaro, durante seu período na
magistratura, Moro deu sinais claros de não respeitar o estado de direito. Como juiz encarregado de Lava Jato, ele não parou de intimidar e intimidar as poucas pessoas que o criticaram na época, fossem jornalistas, advogados ou membros da academia. Embora ONGs como Repórteres Sem Fronteiras ou organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil protestassem contra os métodos de Moro, o juiz manteve suas práticas e até espionou ilegalmente conversas telefônicas entre advogados e clientes para antecipar estratégias de defesa.

Em vez de apresentar sua renúncia, Moro limitou-se a pedir "desculpas" à Suprema Corte. Essa estratégia é comum no governo Bolsonaro: basta admitir culpa e não sofrer consequências legais. O ministro da Cidadania Onyx Lorenzoni pediu desculpas por receber dinheiro ilegal por suas campanhas eleitorais. Em vez de iniciar uma investigação oficial pela polícia federal - sob seu comando - Moro expressou "admiração" por seu colega "assumindo a culpa e tomando medidas para reparar seu erro". O próprio Jair Bolsonaro pediu desculpas (recentemente, a um jornalista que ele havia silenciado) sem maiores repercussões.

Quando Moro era ministro de Bolsonaro, ficou calado diante de vários ultrajes democráticos. Ele não disse nada quando o presidente começou a intervir nos principais organismos estaduais com a intenção de controlá-los. E foi assim que o Tesouro e os serviços de inteligência foram progressivamente supervisionados pelo ambiente Bolsonaro. E mesmo alguns dias antes de renunciar ao cargo, Moro sugeriu ao presidente uma maneira legal de reduzir os poderes de inspeção do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental.

Um exercício de memória teria que ser feito: no final de 2018, quando Moro concordou em se juntar ao governo Bolsonaro, ele parecia vender a ideia de que sua incorporação seria uma garantia de respeito pelo Estado de Direito. Graças às revelações do jornalista Glenn Greenwald e do arquivo Vaza Jato, hoje conhecemos sua idéia do Estado de Direito: conluio entre o juiz e a promotoria, seletividade nas investigações, manipulação de reclamações e motivações financeiras por trás da faixa "anticorrupção". Quando essas informações foram divulgadas, Moro respondeu adotando a mesma estratégia do presidente: associar jornalistas a criminosos e tentar destruir evidências.

Agora que deixou o governo, Moro redescobriu os benefícios do estado de direito e a liberdade de imprensa que ele contribuiu para colocar em risco. Não devemos esquecer isso.

Hoje, a democracia brasileira está em perigo. Embora Moro tenha feito a coisa certa renunciando e denunciando possíveis violações da lei do presidente, o sistema de justiça brasileiro deve julgar as investigações de seus métodos como juiz e ministro o mais rápido possível.

Se o próprio Moro quis defender a democracia do país e impedir que os reveses autoritários aprofundassem a distopia brasileira, ele deveria desistir de suas ambições políticas e reconhecer que a corrupção não pode ser combatida usando métodos corruptos. Um pedido de desculpas não é suficiente.

Gaspard Estrada (@Gaspard_Estrada) é diretor executivo do Observatório Político para a América Latina e o Caribe (OPALC) da Sciences Po, em Paris.
O autor é especialista em política latino-americana.



quarta-feira, 10 de junho de 2020

Ameaça de ação militar sacode o Brasil com aumento de mortes por vírus



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Ameaça de ação militar sacode o Brasil com aumento de mortes por vírus
NY TIMES, 10/06/2020

By Simon RomeroLetícia Casado and  Manuela Andreoni

Enquanto o Brasil se recupera de sua pior crise em décadas, o presidente Bolsonaro e seus aliados estão usando a perspectiva de intervenção militar para proteger seu poder.
As ameaças estão girando em torno do presidente: as mortes por vírus no Brasil a cada dia são agora as mais altas do mundo. Os investidores estão fugindo do país. O presidente, seus filhos e aliados 
estão sob investigação. Sua eleição pode até ser anulada.

A crise tornou-se tão intensa que algumas das figuras militares mais poderosas do Brasil alertam para a instabilidade - enviando estremecimentos que podem assumir e desmantelar a maior democracia da América Latina.
Mas longe de denunciar a idéia, o círculo interno do presidente Jair Bolsonaro parece estar clamando para que os militares entrem na briga. De fato, um dos filhos do presidente, um congressista que elogiou a antiga ditadura militar do país, disse que uma ruptura institucional semelhante era inevitável.

"Não é mais uma opinião sobre se, mas quando isso acontecerá", disse recentemente o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, a um proeminente blogueiro brasileiro, alertando sobre o que ele chamou de uma "ruptura" iminente no sistema democrático brasileiro.

O impasse traça um arco sinistro para o Brasil, um país que abalou o domínio militar nos anos 80 e construiu uma democracia próspera. Em duas décadas, o Brasil passou a representar a energia e a promessa do mundo em desenvolvimento, com uma economia em expansão e o direito de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Desde então, sua economia vacilou, escândalos de corrupção derrubaram ou enredaram muitos de seus líderes e uma batalha de impeachment derrubou seu poderoso governo de esquerda.
Bolsonaro, ex-capitão do Exército, entrou nesse tumulto, comemorando o passado militar do país e prometendo restaurar a ordem. Mas ele foi criticado por subestimar o vírus, sabotar medidas de isolamento e presidir cavalheiresco um dos mais altos números de mortes no mundo, dizendo: "Sentimos muito por todos os mortos, mas esse é o destino de todos".

Ele, sua família e seus apoiadores também estão sendo perseguidos por acusações como abuso de poder, corrupção e disseminação ilegal de informações errôneas. No entanto, quase metade de seu gabinete é composta por figuras militares, e agora, segundo os críticos, ele conta com a ameaça de intervenção militar para afastar os desafios de sua presidência.

Um general aposentado no gabinete de Bolsonaro, Augusto Heleno, conselheiro de segurança nacional, abalou o país em maio, quando alertou sobre "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional" depois que o Supremo Tribunal permitiu que uma investigação sobre os 
apoiadores de Bolsonaro seguisse adiante.

Outro general, o ministro da Defesa, endossou rapidamente a provocação, enquanto Bolsonaro atacou também, sugerindo que a polícia ignore as "ordens absurdas" do tribunal.
“Isso está desestabilizando o país, mesmo durante uma pandemia”, disse Sergio Moro, ex-ministro da Justiça que rompeu com Bolsonaro em abril, sobre as ameaças de intervenção militar. Embora considere improvável uma ação militar, ele acrescentou: “É repreensível. O país não precisa estar vivendo com esse tipo de ameaça. ”

Líderes políticos e analistas concordam que a intervenção militar parece improvável. Mesmo assim, a possibilidade está pairando sobre as instituições democráticas do país, que estão analisando Bolsonaro e sua família em várias frentes.

Dois dos filhos do presidente estão sob investigação pelo tipo de campanhas de desinformação e difamação que ajudaram a eleger o pai em 2018. No final do mês passado, a polícia federal invadiu várias propriedades ligadas a influentes aliados de Bolsonaro. O Tribunal Superior Eleitoral, que supervisiona as eleições, tem autoridade para usar as evidências do inquérito para anular a eleição e remover o Sr. Bolsonaro do cargo.

Dois de seus filhos também estão sob investigação por corrupção, e o Supremo Tribunal Federal recentemente autorizou um inquérito sobre alegações de que Bolsonaro tentou substituir o chefe da polícia federal para proteger sua família e amigos.

Até o tratamento da pandemia pelo presidente está sob ameaça legal: na segunda-feira, um juiz da Suprema Corte ordenou que o governo parasse de suprimir dados sobre o crescente número de mortos no Brasil.

As ameaças de intervenção militar provocaram uma ampla reação, mesmo de alguns membros seniores das forças armadas. E o general Heleno, assessor de segurança nacional, disse mais tarde que não apoiava um golpe de Estado, alegando que era mal compreendido.
Ainda assim, oficiais militares e civis no próprio governo de Bolsonaro - assim como aliados do presidente no Congresso, megaigrejas evangélicas e associações militares - dizem que a manobra visa impedir qualquer tentativa das instituições legislativas e judiciais do Brasil de destituir o presidente.

Silas Malafaia, um televangelista de direita próximo a Bolsonaro, insistiu que o presidente não havia lhe contado nenhum plano de intervenção militar. Ainda assim, ele argumentou que as forças armadas tinham o direito de impedir que os tribunais ultrapassassem ou até derrubassem o presidente.

"Isso não é um golpe", disse Malafaia. "É incutir ordem onde há desordem."
As autoridades pró-Bolsonaro que emitem essas ameaças geralmente não se referem à maneira como os golpes são realizados na América Latina, com as forças armadas derrubando um líder civil para instalar um deles.

Em vez disso, eles parecem estar pedindo algo semelhante ao que aconteceu no Peru em 1992, quando Alberto Fujimori, o líder de direita, usou as forças armadas para dissolver o Congresso, reorganizar o judiciário e caçar oponentes políticos.
Bolsonaro, que ainda recebe apoio de cerca de 30% dos brasileiros, já se apresenta como a personificação da cultura militar brasileira e retrata as forças armadas como gerentes éticos e eficientes.
As forças armadas do Brasil já exercem influência excepcional em seu governo. Figuras militares, incluindo generais aposentados, representam 10 dos 22 ministros no gabinete. O governo nomeou cerca de 2.900 outros membros da ativa das Forças Armadas para postos da administração.

A influência das forças armadas do Brasil estava em exibição quando os líderes do Congresso os isentaram de uma reforma de aposentadorias em 2019, permitindo que membros das forças armadas evitassem os cortes mais profundos nos benefícios sofridos por outras partes da sociedade.

A resposta pandêmica de Bolsonaro mostrou o crescente perfil das forças armadas em seu governo - bem como os riscos para os líderes das forças armadas quando os brasileiros começam a atribuir culpas quando as coisas dão errado.

Com base nos sucessos da saúde pública do Brasil no combate a epidemias anteriores, o Ministério da Saúde pressionou desde o início da crise por medidas de distanciamento social para retardar a propagação do vírus.

Até Bolsonaro parecia estar de acordo com a abordagem, dissuadindo os seguidores de participar de comícios de rua. Então ele mudou abruptamente sua postura, apoiando os punhos do lado de fora do palácio.
Bolsonaro também mudou a liderança da resposta à pandemia para outro general, Walter Souza Braga Netto, seu chefe de gabinete.
Afastado e frustrando a expansão do uso da hidroxicloroquina, um medicamento contra a malária promovido por Bolsonaro que não se mostrou eficaz contra o vírus, o ministro da Saúde foi substituído. Seu sucessor durou apenas algumas semanas até que ele renunciou, substituído por um general do exército, Eduardo Pazuello.

Um ex-funcionário do ministério da saúde disse que as mudanças bruscas criaram uma sensação de caos dentro da agência, resultando em semanas de disfunção e paralisia no momento mais crucial - quando o país deveria estar lutando contra a disseminação descontrolada do vírus.
Separadamente, Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde no início da pandemia, disse que Bolsonaro valoriza a estabilidade econômica em detrimento das prioridades de saúde, preferindo uma figura militar à frente do ministério.

"Ele precisava de alguém como um general ou um coronel que via o ministério como um trampolim, uma maneira de obter uma promoção por bravura", disse Mandetta.
O Brasil agora tem mais de 700.000 casos confirmados de coronavírus, perdendo apenas para os Estados Unidos. Pelo menos 37.000 pessoas morreram com o vírus no Brasil a partir de terça-feira, com a contagem de mortes geralmente subindo mais de 1.000 por dia.

A revolta no Brasil está levando os investidores a correrem para as saídas. A fuga de capitais está atingindo níveis nunca vistos desde os anos 90. O Banco Mundial espera que a economia contrai 8% este ano. A produção de automóveis, um pilar da economia outrora próspero, caiu para o nível mais baixo desde a década de 1950.
Carlos Fico, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro que estuda as forças armadas brasileiras, disse que o crescente poder das forças armadas corria o risco de revelar sua incompetência em áreas cruciais.
"Eles acham que declarações bombásticas farão as coisas acontecerem como no campo militar, onde uma ordem é dada e as de menor escalão obedecem", disse Fico.
Mas com os militares agora guiando a resposta à pandemia, Fico acrescentou: "Eles correm o risco de serem responsabilizados pela sociedade pelo que acontecerá a seguir".
Os principais aliados de Bolsonaro insistem que as forças armadas não têm planos de golpe. "Nenhum general de quatro estrelas é a favor da intervenção militar", disse Sostenes Cavalcante, um congressista de direita.
Mas, no mesmo instante, Cavalcante argumentou que algo deve ser feito para conter o poder da Suprema Corte. Ele argumentou que a conversa de um golpe de Estado pelo filho de Bolsonaro era apenas uma maneira de pressionar o judiciário.
"Você pode interpretar isso como a Suprema Corte ultrapassando sua autoridade", disse Cavalcante.
Ao mesmo tempo, algumas autoridades do governo Bolsonaro estão examinando ativamente os cenários em que os militares podem intervir. Um oficial militar do governo que não estava autorizado a falar publicamente disse que uma intervenção permaneceu fora do radar por enquanto, mas que certas medidas do judiciário, como ordenar uma busca no palácio de Bolsonaro como parte de uma investigação, poderiam mudar isso. .

Da mesma forma, acrescentou o funcionário, qualquer possível anulação da eleição de 2018 por um juiz também seria considerada inaceitável, porque removeria não apenas Bolsonaro, mas também seu companheiro de chapa e vice-presidente, Hamilton Mourão, general aposentado.

Mourão afirmou repetidamente que nenhum tipo de intervenção militar está sendo considerada. Mas mesmo o debate sobre a intervenção militar está levantando preocupação com a resiliência das instituições democráticas brasileiras e com o retorno à instabilidade política crônica, com constante intromissão militar.
Fernando Henrique Cardoso, um ex-presidente civil que foi exilado durante a ditadura militar, disse que não achava que um golpe fosse iminente. Mas ele temia que as táticas de intimidação de Bolsonaro pudessem se intensificar.
Como morrem as democracias? Você não precisa de um golpe militar ”, disse Cardoso, 88 anos, que já pediu a Bolsonaro que renuncie, a repórteres.
 "O próprio presidente pode buscar poderes extraordinários, e ele pode consegui-los”

Tradução do GOOGLE

sábado, 22 de fevereiro de 2020

SETE MANDAMENTOS do ANO LETIVO


SETE MANDAMENTOS do ANO LETIVO e comentários...

(Publicado em 22/02/2015)
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1 - AMARÁS SEUS ALUNOS SOBRE TODAS AS COISAS.
Condição essencial para o professor estar numa escola. "Amar" é gostar de dar aula, estar ali com eles, e não colocá-los no colo. (mas pode fazê-lo, se quiser...)
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2 - NUNCA DIGA A UM RESPOSÁVEL QUE O FILHO DELE É "FEIO".
Dependendo da porte, a reação do responsável pode ser de um maribondo ou de uma onça, ambas com graves consequências.
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3 - AMARÁS OS RESPONSÁVES.
Todos os responsáveis são gentis até prova em contrário. Geralmente são pessoas cambiantes, ora chamando de "professor", "professora", "tio", "tia", ora chamando de algumas espécies zoológicas, às vezes impublicáveis, por causa do que você fez aos filhos, do que você NÃO fez aos filhos, do que "disseram" que você fez aos filhos, do que "disseram" que você NÃO fez aos filhos, do que "disseram" que "disseram" que você fez aos filhos.
De modo geral, podemos dividir os responsáveis em três grupos: os AUSENTES, os PRESENTES ou NORMAIS , e os ESTRESSADOS.
Os "Ausentes" são os que nunca aparecem, EXCETO para reclamar, às vezes confundindo a turma, os professores e até mesmo as escolas onde os filhos frequentam. De modo geral, surgem pelo que "disseram" de seus filhos. Muitas vezes, vão com amigos, amigas, vizinhos, vizinhas, geralmente mal-encarados e, no caso de acompanhantes homens, com um boné e óculos escuros... Quando são mais ou menos educados falam "merda!"; quando sem polidez nenhuma, impropérios impublicáves. Mesmo estes são ótimos pais, porque tiram os filhos da escola...
Os "Normais" estão sempre presentes. Preocupam-se com os filhos. Respeitam os professores. Às vezes dão lembrancinhas e até fazem bolo no dia de aniversário. Eventualmente são "festeiras": quando sentem que os filhos foram prejudicados, dão o maior "baile" na porta da escola...
Os "Estressados" são aqueles que não xingam, não dão "baile", não reclamam: dão logo queixa na CRE, muitas vezes anônimas, no Programa do Wagner Montes, nos jornais e, em casos extremos, se queixam direto no Ministério Público. Quando eventualmente vão à escola, direção e professores acabam tendo um comportamento presidencial: "eu não sabia..." Sobrevém uma dor de cabeça que pode durar meses...
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4. ALUNOS, PROFESSORES, FUNCIONÁRIOS, RESPONSÁVEIS E DIREÇÃO ANDAM "ARMADOS" O TEMPO TODO.
Estas "armas" de ataque e defesa têm o nome genérico de "LEGISLAÇÃO", que funcionam como escudo. Atentem SEMPRE que os "escudos" de professores, funcionários e direção apresentam vulnerabilidades, geralmente saindo derrotados nos confrontos...
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5. DIRETORES NÃO SÃO MÁGICOS.
Diretores não usam cartolas donde tiram coelhos ou pombos, mas têm que fazer aparecer coelhos e pombos; diretores não dão nó em pingo d´água, mas têm que tentar; diretores não são santos, mas têm que operar milagres; diretores não dormem, mas têm que dormir; diretores têm direito a férias, mas nelas seguem pensando na escola__ o que é um GRAVE ERRO.
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6. REZEMOS PELA SAÚDE DOS PROFESSORES, DIRETORES E FUNCIONÁRIOS.
Professores, diretores e funcionários devem gozar de boa saúde. A saúde pode ser afetada na carne e no espírito. Na carne, são os resfriados, as gripes, os traumas etc. No espírito temos afecções graves de origem bacteriana ou viral. Nas de origem bacteriana, temos as provocadas por "melixandococos", "streptocagandoeandandococos", "quesedanecocos"__ muitas vezes sem febre, como é usual em infecções, mas com variados sintomas de moleza, indisposição, "deitação e rolação" e manifestações explícitas de sacanagem. Nas de origem viral, os vírus "VTNC", "PQPK", "VSF" atacam, provocando letargia, aversão ao trabalho, e sacanagem generalizada.
Importante frisar que o diretor pode ser atacado por uma gripe de nome "Absenteismus influenza", o que o impede de comparecer todos os dias à escola, estando sempre presente, contudo, em reuniões marcadas pela chefia... Esta gripe é crônica e, curiosamente, só é curável com trabalho e não com repouso...
Finalmente, oremos sempre para que duas qualidades andem juntas, como unha e carne, no diretor: sensatez e inteligência. Estas impedem a manifestação de uma doença GRAVÍSSIMA: o VAMPIRISMO GERENCIAL, pela qual professores e funcionários são sugados, sugados e sugados de tal modo, que escola desfalece e até morre...
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7. PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL E 1º ANO DEVEM PORTAR UMA VASSOURA.
Pode parecer estranho, mas não é. Todo professor de Educação Infantil e 1º ano têm que dar muita atenção aos seus miudinhos e aos responsáveis dos mesmos, principalmente se estes responsáveis forem mães ou avós. Estas pessoas estão sempre ali, na porta da sala, procurando se informar das crianças. As professoras talhadas para estas séries são educadas e, por vezes, ficam sem jeito de finalizar a conversa. Ficam, ficam e ficam... e a criançada, claro, bagunça pura...
É aí que aparece a vassoura. A professora, ao começar a perceber que a conversa vai render, entra discretamente na sala e coloca a vassoura de cabeça pra baixo atrás da porta... Pronto. Com este expediente, a pessoa irá embora, sem maiores problemas, agradecendo a atenção dispensada...
Algumas pessoas sugerem galho de arruda na orelha. Não convém... Primeiro, porque causaria uma má impressão estética; segundo, porque arruda tem uma conotação um tanto religiosa, ou assim parece a alguns...
A vassoura convém, porque é Folclore. Folclore é cultura. Se a escola é LAICA, arruda na orelha é dúvida razoável, mas vassoura atrás da porta é puro folclore, é cultura.